As freiras do Convento dos Remédios não deixaram receitas escritas dos doces que faziam. No entanto, esta doçaria conventual chegou a algumas famílias e doçarias de Braga, que lhes deu continuidade, deixando na memória dos bracarenses uma deliciosa tradição.
O presente estudo de Anabela Ramos, com a inestimável colaboração de Margarida Vieira de Araújo, vem pela primeira vez reconstituir a actividade doceira das religiosas dos Remédios, pela qual ficaram conhecidas. Com luminosos detalhes e notável rigor histórico, a investigação da autora transporta-nos para um outro tempo, através de manuscritos como os cadernos de despesa do Convento dos Remédios, do Mosteiro de Tibães e de outras instituições religiosas relevantes.
Um estudo imprescindível para a história da doçaria conventual e para a compreensão da abundante herança doceira dos Remédios.
ISBN: 9789899971424
Ilustrações de Ana Hoo
148 páginas | capa mole com badanas
Anabela Ramos é natural de Mangualde e vive há mais de vinte anos em Braga. É licenciada em História, Mestre em História Moderna pela Universidade de Coimbra e pós-graduada em Ciências Documentais, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Trabalhou no Arquivo Distrital de Viseu e presentemente exerce funções na Direcção Regional de Cultura do Norte. É ainda membro do projecto ReSEED, da Universidade de Coimbra. Paralelamente, e no âmbito da sua actividade profissional, tem realizado vários trabalhos de investigação histórica, centrando-se no campo da história social da época moderna, de que se destacam os seguintes títulos publicados:
Violência e justiça em terras do Montemuro (1708-1820) (1998);
Casas solarengas do concelho de Mangualde (2009);
Alimentar o corpo e saciar a alma: ritmos alimentares dos monges de Tibães, séc. XVII (2013);
O cidrão: na história, no campo e na mesa (2014);
Viúvas de Braga e outros doces do Convento dos Remédios (2019);
Receitas e Remédios de Francisco Borges Henriques: inícios do século XVIII (2020).
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Considerando todos estes centros monásticos, e com base naquilo que até agora conhecemos, conclui-se que eram as franciscanas dos Remédios e as beneditinas do Salvador exímias fabricantes de doces, fazendo disso modo de vida. Pelos livros de gastos da casa, percebemos que as freiras do Convento dos Remédios fabricavam doces para a sua própria comunidade em dias festivos como o Natal, a Páscoa, o dia de São João e o dia de São Francisco, mas também para oferecerem como mimo ou como pagamento de obrigações aos vários mosteiros masculinos da cidade e a pessoas que lhes prestavam diversos serviços, como o letrado, o médico e o pregador.
Adicionalmente, as visitações do arcebispo complementam a informação disponível, trazendo outros dados para o conhecimento da realidade doceira em torno destas freiras. Do mesmo modo, através da análise dos livros de gastos de outros mosteiros da região, percebemos, também, que as freiras daqueles conventos vendiam doces para toda uma clientela monástica que extravasava os muros da cidade e se estendia, por exemplo, a Tibães, dentro da área concelhia, a São Romão de Neiva, em Viana do Castelo, a Ganfei, no concelho de Valença, e a Miranda, no concelho de Arcos de Valdevez.
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Ricardo Silva